terça-feira, 13 de abril de 2010

Moonlight


No escuro mais negro da noite, no seu breu mais intenso, um lençol negro, gigante, sedoso, flutua no céu suavemente de encontro ao chão embrulhando toda a Terra na sua exacta medida, ajustando-se ao seu exacto diâmentro, toda a Terra lentamente submersa por um lençol imenso, negro, de seda. Os montes, as árvores, os rios, os oceanos, os arranha céus, os prédios, as casas, as pessoas, a tua casa, tu, todos são agora o seu contorno, o contorno da Terra embrulhada num lençol negro de seda! E tu vais na rua quando ele te atinge, vais na rua só e apressado quando ele te toca pela primeira vez a cabeça, vais tu na rua absolto já cego, e nem sentes quando ele chega ao chão, e nem sentes quando entrelaças os pés nele, e nem sentes quando cais, e nem sentes quando continuas a caminhar, a estrebuchar, a lutar contra o lençol negro de seda que de repente te atirou ao chão, que de repente te impediu de avançar, que de repente te lembrou que ias cego, que de repente te lembrou que já houvera luz, que de repente lembrou-te que existias, que de repente lembrou-te que valias a pena, que valeu a pena, que ainda valia a pena, mais cinco minutos que fossem de qualquer coisa valem a pena, que cada instante valeu, e valerá mais que a pena, lembrou-te também que fazes sentido, que te queres bem, e fazer bem, que mereces e vais fazer por merecer esta luz.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Qual quer

Um chão cálido congela-me os passos, o meu abraço, aprisionam-me o peito.
O ar sufocado, liberta-se de encontro à morte, sentir, é já um passe de mágica, sendo que os sentidos não passam de instrumentos obsoletos de resultados obscenos!
O oxigénio é adulterado, o dióxido de carbono expirado, uma invenção do deus homem, e estar vivo, não passa de um sonhar profanado! Viver não se estende mais do que a uma pura ilusão realista.
No dia em que te não beijei, ainda era eu, assim como, ainda não era eu, quando te não pisei, o meu peso é volátil, o meu beijo um engano, e nem quando te conheci era eu, se penso em ti, à noite quando nem consigo dormir, é porque não és e não foste e só vais ser, e se penso em ti, mais esta nenhuma noite, é porque o meu eu existe!
Já vi todas as direcções e para nenhuma me dirigi, os cheiros, os atalhos e desvios, uma racionalidade senil, arrastam por mim e confundem-se. Terá o início um fim, ou serão todos os começar desprovidos de termo mortal e mutável? Como começas e acabas, se antes e depois, estás cá? Se algum tempo antes e depois, existes tanto, quanto sempre te viste existir, se antes e depois, só o foste em ti e se só sabes o que é ser verdadeiramente em ti? Como te podes ver se nunca de ti saíste?
Sabes, nunca levei nada a sério, nunca acreditei para além do provisório e o meu definitivo, desfaz-se sempre em gargalhadas. Sabes, saber tem sempre muito que se lhe diga, e o que se diz pouco tem do que se saiba.
Nunca sei do que falo, se é do que vejo ou se falo do olhar de um outro qualquer, se é do que vivo, ou se sou uma outra vida qualquer, se sou o que recordo, ou se não, se sou aquele, o qual quer!

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Lua cheia

A lua cheia,
De si,
Da Terra,
Do Sol que reflete.
A lua cheia,
Do seu branco,
Da sua órbita,
Da sua baça luz.
A lua cheia,
Alta,
Diante de mim,
Cheia de si,
Deste ângulo,
Redondamente
No máximo de si,
Que assim como eu,
Dependo do olhar e do calendário,
Ora como agora, cheio,
Ora como logo, novo.