terça-feira, 13 de abril de 2010

Moonlight


No escuro mais negro da noite, no seu breu mais intenso, um lençol negro, gigante, sedoso, flutua no céu suavemente de encontro ao chão embrulhando toda a Terra na sua exacta medida, ajustando-se ao seu exacto diâmentro, toda a Terra lentamente submersa por um lençol imenso, negro, de seda. Os montes, as árvores, os rios, os oceanos, os arranha céus, os prédios, as casas, as pessoas, a tua casa, tu, todos são agora o seu contorno, o contorno da Terra embrulhada num lençol negro de seda! E tu vais na rua quando ele te atinge, vais na rua só e apressado quando ele te toca pela primeira vez a cabeça, vais tu na rua absolto já cego, e nem sentes quando ele chega ao chão, e nem sentes quando entrelaças os pés nele, e nem sentes quando cais, e nem sentes quando continuas a caminhar, a estrebuchar, a lutar contra o lençol negro de seda que de repente te atirou ao chão, que de repente te impediu de avançar, que de repente te lembrou que ias cego, que de repente te lembrou que já houvera luz, que de repente lembrou-te que existias, que de repente lembrou-te que valias a pena, que valeu a pena, que ainda valia a pena, mais cinco minutos que fossem de qualquer coisa valem a pena, que cada instante valeu, e valerá mais que a pena, lembrou-te também que fazes sentido, que te queres bem, e fazer bem, que mereces e vais fazer por merecer esta luz.

2 comentários:

Koky disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Koky disse...

Nada existe além da noute escura, não há luz que se lhe oponha, não há cor que se lhe proponha, nada mais existe que a negra noute, nada mais que a loucura.