O filme já não é recente e chega-nos do outro lado do Atlântico e nem sequer vem do império cinematográfico, (e não só), Estados Unidos da América. Este, chega-nos do nosso irmão Brasil e ainda mais espantoso que não vir da América, é que sendo este brasileiro, ainda assim, não é sobre favelas… De facto surpreendente!
O filme vem com pó lá do meu baú, data do ano de 1998, e entre a nomeação para os Óscares, na categoria de melhor filme estrangeiro e para a melhor actriz (Fernanda Montenegro), recebeu inúmeros prémios como é exemplo o de Urso de Ouro (melhor filme) no Festival de Berlim.
Central do Brasil é um filme, que como não podia deixar de ser, é um filme de intervenção, que retrata um lado do Brasil menos belo que as suas praias e paisagens. Mas mais que um retrato social, Central do Brasil é uma história, uma história de vida (muito bem) contada na tela.
O cinema Brasileiro está sem dúvida ao nível dos melhores mundiais, os imensos anos de experiência em telenovelas e num país onde nem tudo são rosas, mas onde, de qualidade e diversidade de Cultura, não têm muito para se queixar. Talvez devido ao seu imenso tamanho e à sua enriquecida mistura cultural, não são poucas as obras de arte efectuadas por artistas brasileiros, reconhecidas pelo mundo inteiro. E este filme, para mim, é exemplo da elevada qualidade do cinema, que os que partilham connosco o nosso português, são capazes de fazer.
Com a banda sonora a cargo de António Pinto, (filho de Ziraldo, autor do maravilhoso livro “O menino maluquinho”), e de Jaques Morelenbaum (que ultimamente tem acompanhado a nossa Mariza), ou seja, a cargo de dois grandes senhores da música brasileira, a trilha sonora como dizem eles, quase que passa despercebida graças á sua genial e subtil consistência sonora que imprime aos diferentes ritmos e locais onde a acção do filme se vai desenrolando.
Central do Brasil é um filme tocante, um filme que nos impele para os sentimentos, mas que nos impede de olhar para o humano somente a preto e branco, na eterna dicotomia entre o bem e o mal, entre os bons e os maus. Neste filme não há bons nem maus, há apenas pessoas, que como sabemos, cada um de nós, somos capazes do melhor e do pior.
Em traços largos, o filme conta a história de uma criança que fica só na grande Rio de Janeiro depois de o atropelamento mortal da sua mãe á porta da Central do Brasil. Seu pai e seus irmãos encontram-se a milhares de quilómetros, em Pernambuco, e mal fazem ideia da existência do menino.
O menino vê-se assim entregue a si próprio não fosse a ajuda de uma professora primária reformada que agora é “escrevedora de cartas” na Central do Brasil (para quem não sabe Central do Brasil é a Estação de Comboios do Rio de Janeiro). Dora, o nome da “escrevedora de cartas”, a personagem interpretada (excelentemente) por Fernanda Montenegro, começa primeiro por vender o menino a uma instituição para crianças de fachada, que não se percebendo muito bem para o que eles queriam as crianças, para coisa boa não era… Chamada à razão pela a sua amiga Irene (Marília Pêra), Dora parte num louco e arriscado resgate do menino, Josué, à instituição onde o vendera, que culmina numa longínqua e difícil viagem do Rio até Bom Jesus do Norte, os dois! Dora e Josué. Ela que começara por vende-lo, deixa para trás a sua vida, embarcando por ele, numa louca viagem, sem fim á vista, no profundo Brasil, e fazendo-o quase sem dinheiro. Uma mulher que arrisca a sua já frágil condição de vida, tudo por uma criança que não lhe é nada, e, que mal conhece!
Mais não conto, se não também perde a piada.
Um filme a não perder, um filme de lágrima fácil, seja ela de alegria ou de tristeza. Um filme que nos relembra o tão bom que é ser, e de quanto vale um sonho de uma criança...
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