quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Rir em Português.

Não que falte sentido de humor á nossa gente, fazemos tanta coisa de rir, que seria impossível não o termos. Felizmente somos humildes o suficiente para estarmos permanentemente a rirmo-nos de nós próprios. É um facto, em Portugal ri-se.
Do meu humilde quase quarto de século, foi com o Herman que aprendi a rir em português nos seus tempos de RTP. Tive o privilégio, de enquanto brotava a minha adolescência, em que um gajo tá mais virado pá estupidez, brotava também, a fase mais genial do dito cómico.
Herman é um cómico, que se herdou a si próprio, sozinho quebra com todos os estilos da época e consegue impor os seus, á custa de genialidade, coragem e persistência.
Herman é o primeiro a romper drasticamente com alguns dos assuntos politicamente correctos até então abafados nos medos do sistema. O Herman é o primeiro comediante verdadeiramente democrático. Critica tudo e todos, conforme lhe dá na real gana, na política, da esquerda à direita, no futebol, do azul, ao vermelho e ao verde, na religião, nas figuras públicas…
Herman disparou para todas as direcções que o nosso rico país em ridicularidades lhe apresentou. Sem nunca ter tempo sequer para pensar. Liberdade de se ser puto, diz-se o que se apetece:
- Sou puto pá, um insolente, ninguém me leva realmente a sério.
Imagino Herman, a pensar para com os seus botões.

Depois de Herman, foi outra vez Herman. Foi tanta vez Herman quanto a quantidade de vezes que já escrevi Herman, só neste post. Foi (em vez de Anita): “Herman no deserto do humor”. Facto que inevitavelmente não ajudou em nada a sua evolução. Não é que não tenha evoluído, mas é óbvio que se evolui mais, e mais rapidamente, com concorrências ferozes. Muito provavelmente paga agora essa factura. É que nunca antes, tantos, proclamam a sua morte.
Mas eu acho que ele ainda não morreu, tenho visto os sketches no site da sapo, “os incorrigíveis”, e parece-me que o homem ainda respira! E, diga-se de passagem, de vez em quando manda umas piadas tão boas, como por exemplo, os restantes cómicos do dito site. E quando digo boas, refiro-me aquelas partes, muitos raras… onde eu consigo esboçar um ténue e quase perceptível sorriso.

Não sei se é de mim, ou se é do tempo, se é da minha alimentação. Mas ultimamente tenho tido muita dificuldade em rir! De rir ás gargalhadas, até á dor de barriga! Não que a minha vida quotidiana não seja divertida que, essa ás vezes, ainda me presenteia com esses felizes momentos. Mas refiro-me mais aos momentos que dedico com essa finalidade aos profissionais do humor nacional.
Do humor repito, não confundir este ramo com outros ramos profissionais só por causa da terminologia da palavra, nada de confusões, ainda há profissionais competentes no país…
Mas agora falando dos do humor... Porra, que se passa convosco amigos? Não é suposto a gente se rir?
Não. Deixa-me lá mas é ir com calma, até porque conclusões precipitadas, levam frequentemente a enganos, e isto talvez até seja de mim. Talvez ande eu numa fase menos risonha ou algo do género e estou eu aqui a descarregar frustrações sobre os pobres dos comediantes nacionais.

Já agora queria explicar-vos de onde veio esta minha ideia de desancar nos comediantes. Primeiro, porque ultimamente o que me dá mais energia quando me proponho ao exercício da escrita, são as minhas mais recentes embirrações, e esta tornou-se numa delas. Segundo, porque, estava eu todo feliz e contente neste meu fim-de-semana em família a contar a piada que tinha ouvido no site da sapo, os incorrigíveis, do convidado #5, o Sr. Bruno Ferreira, quando
para grande desgosto meu, a minha irmã diz:
- Já ouvi isso...
Decerto que saberão como são estas coisas. Estamos nós galvanizados, a descrever a piada da melhor maneira que conseguimos, e alguém diz:
- Oh, essa já conheço…
É desconcertante. Porra pá, a minha irmã nem fazia ideia que existia a saga de “os incorrigíveis”! Porra pá, fiz questão de descortinar à plateia esse pormenor antes, já em vista de como estava o factor surpresa:
- Conhecem os incorrigíveis, um site da sapo? - pergunto eu.
E tudo respondeu:
-Não.
- Tão como pode estar esta gaja a dizer que já conhece a piada?
Pensei eu cá para mim, olhando fixo a minha irmã.
- É fácil.
E nem sequer é porque andam aí mais uns macaquinhos de imitação pelas ruas a imitar a dita piada, como eu. Pior que isso, são os macaquinhos de imitação dos comediantes que difundem esta imitada piada o máximo de vezes possível, pelos mais diversos meios de comunicação possíveis; televisão, rádio, Internet…
Como é possível que as piadas se repitam até á exaustão na tv, na rádio, na net, na imprensa escrita… As mesmíssimas piadas, ditas todo o dia, todos os dias, transmitidas pelos mais diversos interlocutores, mas sempre iguais... Como é isto possível?
Se calhar as respostas a estas questões, chamam-se:
Fictícias. Produções Fictícias.

Chegaram por volta dos anos noventa como se pode ver no seu site, e desde aí, foi sempre a crescer, digo eu, e como se pode ler no meu blogue… De facto, as Produções Fictícias (PF) são sem dúvida um fenómeno de sucesso enorme, alcançado com muito mérito, a qualidade e originalidade alcançados nos primeiros tempos de existência é inegável e consolida desde aí uma posição de destaque. As PF, chegaram, viram e venceram, num mercado que até então tinha o Herman e pouco mais. Assim logo desde o seu inicio, com a origem do “Contra Informação” e da “Conversa da Treta”, por exemplo, arrancam as PF com toda a pujança até chegarem ao estrondoso sucesso que hoje se pode verificar.
As PF estão por toda a parte da nossa comunicação social. Na televisão como é exemplo do “Contra”, na rádio como é exemplo o “Portugalex”, na Internet como é exemplo pftv, nos jornais escritos com por exemplo no jornal “A bola”.

Será então por isso, que as piadas e os alvos das piadas, são sempre os mesmos em todos os meios de comunicação? Terá alguma coisa a ver, o trabalho das PF, com o facto de se ouvir de manhã no “Portugalex”, a contar-se a piada do Valentim, a do Santana Lopes, a do Pinto da Costa, a do Sócrates. Depois, à noite, no “Contra”, ouve-se a mesma piada que se fez com o Valentim, a mesma que se ouviu do Santana Lopes, a mesma do Pinto da Costa e a mesma que se ouvi do Sócrates, tudo isto, tendo cada piada os mesmos protagonistas das já contadas.
Depois vem o Domingo, espectáculo, os “Gatos”. Oh, mas, e não é que eles contam as mesmas piadas e quase, quase da mesma maneira. Mas, até que podia ter piada… Mas só uma vez!
É que são sempre o mesmo tipo de piadas, sempre para os mesmos alvos. Aconteça o que acontecer, com qualquer um dos protagonistas alvo, que venha nas noticias, e isso acontece todos os dias (!), e lá vêm eles, todos os dias (!), contar a mesma piada que contaram ontem, um pouco de nada diferente, mas com o mesmo final, e com a cada uma das temáticas respectivas, associada ao protagonista de sempre, e é pá, é que chateia... Não dá para rir, chateia mesmo…
Claro que há figuras públicas mais à mão de “comediar” que outras, óbvio, mas ao menos que o façam com criatividade. É que é sempre a mesma coisa, é que até parece novela:
O Mourinho e o Sócrates são os vilões arrogantes, o Valentim é o ladrão sem vergonha e o Pinto da Costa, o tirano corrupto, Padrinho de toda a Máfia Tripeira (que rivaliza de perto com a famosa Siciliana). Depois vêm o fanfarrão do Santana e o seu amigo traquinas e trapalhão, Marques Mendes, e por aí adiante…
E a novela, prolonga-se por tempos indefinidos, aos quatro ventos da comunicação social, repetindo sempre o mesmo, até ficar bem gravado na memória dos portugueses.
Desculpem, mas é assim que nos querem fazer rir?


Atenção, não é minha intenção estar aqui a culpabilizar as PF, pelo que julgo ser um mau período do humor em Portugal, até porque julgo ser graças as PF que o patamar de qualidade nessa área foi elevado por cá, isto para além do facto, de nessa área continuarem a ter conteúdos de qualidade, e isto já para não falar, de não ser só nessa área que elas laboram, atingindo o seu trabalho outros universos da ficção nacional.
As PF são uma mais valia para a ficção nacional, pela qualidade, pelo rigor, e pelos conteúdos cada vez mais actuais que apresentam, mas penso que a sua monopolização no mercado do humor nacional está a prejudicar à gargalhada…

Mas se calhar fui eu que comi uma posta estragada… :s

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