quarta-feira, 31 de outubro de 2007

E sai uma postazinha de bacalhau ali pó Sr. Jorge Palma, se faz favor!



Era inevitável que neste meu blogue num houvesse uma posta acerca do Sr. Jorge Palma. Ainda para mais com a plausível desculpa do lançamento do seu recente álbum e embora não sendo ele assim tão recente, visto ter sido lançado em Julho deste ano, para um musico com este, que dá-se ao luxo de estar doze longos anos sem mandar um álbum de originais, mandar uma posta de bacalhau passados três míseros meses de atraso é ser no mínimo precipitado. E com este tema, é mesmo preciso ter atenção a precipitações, o homem, musico, compositor, poeta, Jorge Palma, não é de imediata compreensão. A sua genial complexidade em todas as formas das suas existências, são de lenta e por vezes difícil compreensão…
Visitei pela primeira vez o universo Jorge Palma por volta dos quinze anos, desde então não mais parei de o revisitar. Foi sem duvida nenhuma, o universo musical que mais vezes visitei, na vida. Jorge acompanhou-me desde aí até agora.
Comecei “Só”, sem duvida o melhor álbum de compilações feitas pelo homem. Pelo homem e pelo seu piano. E se há coisa que Jorge verdadeiramente é, é pianista. De formação, de vocação, de paixão. Só o piano o entende assim, e só ele entende assim o piano! É pelo piano que Jorge melhor comunica com o mundo… Á guitarra, ele empresta a sua persistência, a sua liberdade e a coragem de um autodidacta. Mas é no piano que se vê toda a sua virtuosidade musical. Ao piano vê-se Jorge ao seu melhor, desde que ele também esteja ao seu melhor…E para além dos temas instrumentais que preenchem a obra gravada a solo a comprovarem o seu á vontade com o piano, salienta-se, obviamente em opinião pessoal, o tema, “Balada de um estranho” interpretada no álbum “Acto Continuo”, que para além de uma letra genialmente simples e real, é lhe imprimido pelo piano, um ainda maior realismo. “Balada de um estranho” é mais um dos momentos de Jorge no seu melhor, a desnudar suavemente os muitos dos nossos véus…
Foi sem dúvida nas letras, na sua existência de poeta, que comecei por me viciar em toda a obra de Jorge Palma. Tive sorte em tomar contacto com Jorge palma pelo álbum “Só”, nele estão reunidas sem dúvida as melhores letras feitas até então por ele. Foram sem duvida muito bem escolhidas as músicas que compõe este álbum de compilações, todas elas, senhoras de uma robusta poesia libertina. Jorge fala de tudo, desde os muitos romances que preenche o dito álbum, da “Estrela-do-mar”, à “O meu amor existe”, da “Só”, a “Essa miúda”, passando um pouco por “À espera do fim”. Mas não é só de amores que ele fala, Jorge encontra ainda espaço para abordar temas mais existencialistas como “Frágil”, ou “O Bairro do amor”, “Na terra dos sonhos”, e em “Como uma viagem na palma da mão”, não esquecendo a brilhante

“Dizem que não sabia quem era”. E ainda encontra espaço neste álbum para a sua constante contribuição critica e (a)politica do sistema.
Digo (a)política, porque, Jeremias é sem duvida um fora da lei!

Jorge tem opinião, mas não se lhe conhece grandes intimidades com políticos ou respectivos grupos partidários. Jorge é um partido! Deste tal álbum que agora falo e em relação a esta sua preocupação (a)politica, podem-se ouvir á famosíssima “Jeremias o fora da lei”, e “A gente vai continuar”. Mas pela sua obra toda não faltam requintadas e descomprometidas intervenções politicas.
Falar do universo Jorge Palma não me é fácil, sou demasiado suspeito, amador e apaixonado pela sua obra para conseguir obter uma posta assim, para o bem cozinhada. É que já comecei mal. Vim para aqui com a desculpa de falar do novo álbum e ponho-me aqui com tretas, e, falar do álbum que é novo, era o eras…
Mas que é que querem, este homem é sem duvida um homem que tem muito que se lhe diga. Oh que pensam? Quer pela sua obra, quer pelo seu invejável percurso de vida. Jorge viveu o que escreveu, viajou, viu, viveu, escreveu-o e musicou-o. Pouco teve que imaginar.
Jorge encheu-se como poucos de vida.
Agora faz o seu “Voo nocturno”, que depois da inevitável procura falhada do “Norte”, veio repor coerência ao seu demoradíssimo álbum de originais intitulado com o seu próprio nome “Jorge Palma”, que considero um trabalho fenomenal, talvez mesmo, o álbum de originais mais bem conseguido.
Este novo “Voo nocturno”, vem um pouco cinzento, soturno… Depois de uma manifesta falha em encontrar o norte, parece vir alguma resignação pela limitação humana.
Afinal não somos todos heróis nem imortais, é o lema que parece servirem como asas neste seu novo “Voo nocturno”. Até no amor Jorge se resigna como mostra o tema “Abrir o sinal”. Mas não é só de conformidades que vive o álbum. Este álbum tem o que deixa parecer ser, uma continuação de uma conversa de estação que se inicia no tema “Nunca é tarde para se ter uma infância feliz” e que culmina agora no “Olá (cá estamos nós outra vez)”, que considero genial. Tem “O centro comercial fechou”, e outras mais grandes musicas do velho Jorge Palma. Um álbum para descobrir e com votos que ainda venham outros voos deste invulgar homem de “Portugal, Portugal”!

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