Eu sou estudante. Pronto está bem, ainda há duas postas atrás falava eu em verdade e estou agora eu para aqui com meias verdades! Pronto, eu estou matriculado num estabelecimento de ensino superior público.
E, como sou um gajo assim um coto pró parvinho, decidi enviar para uns quantos comparsas de profissão e ex-companheiros de curso, um e-mail, mostrando toda a minha indignação para com uma atitude tomada por um qualquer elemento do curso em questão.
A atitude a que me referia nesse e-mail, foi realizada pelo tal de individuo, no âmbito da realização de uma praxe o que lhe dá toda a imunidade, pois, pelo que mais tarde vim a apurar, a praxe não é mais de um ritual que quanto mais primitivo e tradicional mais coerente se torna e é uma pratica onde as leis nacionais podem não coincidir exactamente com as ali praticadas. Mas adiante, e no seguimento da conversa do meu tal e-mail que enviei para os tais alunos do curso em questão, foram muitas as respostas obtidas, o que considero até por ser o pouco de bom, mas também ineficaz do que entretanto se foi passando no seguimento do e-mail e respectivas respostas.
As primeiras respostas foram as boas, os poucos amigos do antigo curso a dar apoio, uns por umas razoes outros por outras.
Depois veio os que se sentiram insultados. E de que maneira se sentiram insultados! Não compreendo como é que alguém, deixa de ser quem é e se passa a considerar-se ele próprio um curso. E quando alguém critica uma só praxe do seu curso, ele urge com violência e determinação, como se fosse ele próprio a ser insultado.
Nunca pensei que um só e-mail provocasse uma tal onda de agitação. Pelos vistos, há mesmo quem leve esta coisa das praxes a sério, aqui por esta pacata e relativamente recente academia de Aveiro. E para mim, descobrir isso, foi como assistir a uma cena evidentemente racista, pois sempre ou quase sempre, julgamos que não somos racistas e certas cenas chocam-nos. Mas isso já é posta para outra altura…
As praxes.
Pessoalmente, praxe não! Infelizmente no meu ano de caloiro fui praxado. Fui-o numa praxe, em que apareci tarde e a más horas. Ainda tive que andar feito barata tonta procurando o local da minha praxe pelo recentemente por mim conhecido, Campus de Santiago, e fui então praxado pela primeira vez. Do que me lembro, puseram uma mistela que não se percebia muito bem do quê na cabeça, e só tive mais tempo para escolher do meio de uma data de uns quantos vestidos de preto um “padrinho” de curso. Voltei a ir a uma praxe, era praxe geral. Fui numa de ver como era, já agora, se é para se ir curtir á grande como se dizia, contem comigo.
Não desgostei da praxe, mas não é de longe das melhores experiências do meu ainda tempo académico. Guardo até algumas más recordações desse dia, mas não foi totalmente tempo perdido.
Depois desta e enquanto “veterano” não voltei a uma praxe. Nunca praxei.
Se fosse hoje não tinha ido a nenhuma dessas praxes. Fui na altura, pela razão que julgo ser a da maioria dos caloiros, não conhecia quase ninguém, estava numa cidade que para mim era nova, e não queria começar as coisas da pior maneira com atritos e más impressões…
Era e sou contra as praxes, mas afinal de contas nem nos tratavam tão mal quanto isso cá por Aveiro, pelo menos achava eu, e pronto, lá fui eu um cobarde para com as minhas convicções e fui praxado! Arrependo-me, preferia hoje poder dizer:
- Eu não fui praxado.
Mas é assim mesmo a vida, nem sempre temos a coragem suficiente para nos ouvirmos a nós próprios…
Sou contra as praxes, não sou anti-praxe, até porque dificilmente sou anti seja o que for. Não sou anti touradas, sou contra as touradas e por ai adiante.
Mas o exemplo é bom, praxe e touradas têm até muitos paralelismos. Vejamos, ambos se baseiam em tradições, as suas origens remontam tempos em que a consciência da integridade humana e animal, estava longe do patamar consciencioso que suponho atingimos agora. Depois, ambas se baseiam na contemplação da subjugação de um ser teoricamente inferior, ao seu superior. Na tourada há um touro, na praxe há uns caloiros. Na tourada fazem o touro andar ás voltas, agarram-no puxam-lhe pelo rabo… Nas praxes faz-se de tudo isso e muito mais, só não se espeta umas bandarilhas nas costas dos caloiros porque isso era capaz de dar um bocado nas vistas e assim ainda se acabavam com as praxes…
Claro que agora até possa estar a exagerar, mas quantos exageros não se fazem á luz das praxes? Quantos atropelos, á dignidade de cada um dos caloiros, não vai pia abaixo com a desculpa da praxe? A coação psicológica que um caloiro sofre, pode ser mais agressiva que qualquer agressão física.
Há uma grande diferença entre o touro e os caloiros, bem sei, o touro está ali na arena porque tem mesmo que estar, enquanto que o caloiro só salta para a arena se quiser. Embora a preparação que um touro leva antes de entrar para a arena, tem de novo, novos paralelismos com a preparação que um estudante leva antes de entrar para o ensino superior.
Antes de entrar já lá estão uns dentro a dizer que é nas praxes que se integra. Chega-se lá, e, se não for pelas praxes que nos integramos, não se pode fazer uma data de coisas e ainda se avisa que não se vai ter muitos amigos, que não podemos ir aos jantares com os “superiores” e os caloiros do rebanho, e mais uma data de proibições do arco da velha.
Não sou anti-praxe, de facto só está nela quem quer, mas decerto que se as praxes fossem feitas noutros cânones, muitos seriam os que agradeceriam e que com mais motivação entrasse nas integrações.
Existe tanta forma de integrar…
Agora se a integração humana tivesse que se fazer sempre à moda das praxes, imaginem o que seria o nosso primeiro dia de trabalho, o primeiro dia de internação num hospital, e tantos outros primeiros dias que temos na vida. As praxes fizeram sentido, em tempos, nos tempos de sua origem, e, mesmo ai com carência de sentido, mas agora, em pleno século XXI pessoas viradas para a parede, pessoas que não podem olhar nos olhos outras pessoas e outras coisas que tal, que sentido fazem?
O que me chocou nisto tudo, foi a forma enfurecida como as pessoas reagiram a uma só opinião. Apenas recorri á minha opinião e se poderei ter ofendido alguém, foi o elemento que ordenou a praxe, a que eu no meu e-mail apelidei de frustrado, a mais ninguém ofendi, mas foi a muitos que encaixou a carapuça…
Bem sei que este é um assunto fracturante, mas, praxe para quê?
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Uma posta das pequenas, vinda aqui do meu pequeno mundo!
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2 comentários:
soDevo dizer que concordo contigo e que, sem dúvida, estou contigo quando dizes que se fosse hoje não terias ido a nenhuma praxe. Eu fui a uma ou duas até perceber que o que estava lá a fazer era tudo menos integrar-me. Confesso que antes de ir para a Universidade a minha ideia das praxes era bastante ingénua, pois agora vejo que as praxes não passam de um divertimento para os chamados veteranos(divertimento um pouco infantil, aliás) e em que os caloiros nada ganham. Ah e o pior é que não acho que seja uma boa desculpa quando dizem que os caloiros têm liberdade de decisão, pois liberdade e manipulação são coisas bem distintas.
Concordo, que eu e tu estejamos a generalizar, bem sei que existem muitos caloiros que participam nas praxes porque querem (pelo menos acreditam que sim) e gostam, e é verdade que existem para ai muitas praxes que de alguma forma podem ser importantes para os caloiros e assim não se identificam com o que se está aqui a acusar, mas é pena que isso seja uma minoria.
E deste modo, fica aqui o meu apoio ao blog ;)
Bem,eu vi paki o post das praxes e dps d xo vos ver a falra mal,axei que devia expressar também o que senti.
Para começar devo explicar-vos que não fui praxada em Aveiro,mas no ISPV,em Viseu onde (desculpem.me la!) mas a praxe era mais dura,e era algo vivido constantemente,não umas horitas durante 1dia de semana. Fui demasiadas vezes de mistela no corpo pa casa,perdi a voz,confesso que também chorei,mas não trocava a minha praxe por nada. Embora ao inicio pensei que fosse uma injustiça, aquele sadico e perverso prazer dos veteranos ao humilharem-nos,a minha praxe fez.me ficar mais forte. Perceber que no mundo do trabalho vou ter d ouvir tanto ou pior e mm assim,calar.m.
Saimos do secundário,cheios de confiança, somos os melhores,entramos na universidade!!!Respeitar matriculas não se trata de vaidade,mas de compreensão, porque o caminho que começamos caloiros,ja eles o fizeram,e a universidade é bem mais que os livros. É a nossa vida...
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