sábado, 30 de maio de 2009

Um testemunho à vida

incomoda-me que a (minha) vida pareça uma chalaça,
um engodo.
perturbam-me as pecaminosas (des)orientações
e charadas,
que nela,
fluentemente se proporcionam.
irrita-me o dúbio sentido do palpitar da pojante vida,
da bomba que não explode,
do rio que não desagua,
da deriva que se faz à deriva,
na tona
e à toa.
nada ganha consistência,
nem velhices, nem postos, nem nadas...
somos sempre tão tontos...
e é essa a ironia,
quanto mais empenhados,
mais focados
e determinados,
mais obstinados,
mais desassossegados,
e tapados...
faltaram sincronias às origens.
os opostos caminhos,
conjugaram-se logo em frente,
em bifurcações de um!
são estas as diversidades singulares
que me transtornam e me transcendem.
nunca se é quem se julga ser,
e quando se vê quem se foi,
já se é
quem não somos...
talvez atente, com maior atenção à devida,
o intento, que tem uma qualquer intenção,
talvez gasta mais de mim que o necessário,
para decifrar indecifráveis conjugações,
talvez nada se ligue,
talvez haja mais ilhas
que mar e terra juntos.
talvez nada seja maior que o átomo,
e talvez,
também o átomo,
não passe duma ideia ridícula
duma louca espécie em expansão,
duma praga que se espraia nas areias individuais das ilhas desertas,
nas areias, onde tudo o é.
a memória foi a coisa mais enganosa a que me aliei,
a minha gasta e usada...
mas a vossa,
porventura mais nova e vazia,
engana-vos uma vez no dia
e quando julgas que sabes,
quando julgas que foste e que já viste,
regressas ameno,
em Outono cinza,
e agora já sabes,
o triunfo,
fica para lá de muito mar e muita ilha de outros.
sei que todos quiseram outra vida
em vez da vida que têm.
sei que as quiseram tanto que as fantasiaram.
sei também como é viver para dentro,
dentro do sonho.
pois como é claro e certo,
não existimos sem vida, sem sonho, sem dúvida, ou certeza,
não existimos só se quisermos,
ou só se pusermos,
não existimos só vertendo ou absorvendo,
existimos aparte.
queres acreditar nisso?
que é numa outra parte que estás?
consegues ver-te?
verter-te?
eu não me vejo.
todos os dias olho o travesseiro deserto, frio, convexo
da cama onde dormi suposto,
enrugada,
usada por fantasmas de mim,
tão desconhecidos quanto abomináveis
e melindrosos.
às vezes julgo ser quem queria ser
e julgo num assistir aparente,
à coerente sequência dos segundos.
riu,
riu e riu,
histérico,
ignóbil,
estridente,
dou pulos no vácuo e borbulho no pensar,
arrebito pestanas, abro persianas,
escancaro portas,
tento feições
e perfeições,
(acabo),
imóvel,
pálido,
duro como tronco ou ferro.
vazio como tudo ou nada...
e ainda me
arrepiam as ondas do céu,

as imutáveis sereias híbridas
de todos os meios.
arreliam-me as forças de se estar onde não se vê chão que se pisa.
eu complico,
troco voltas,
faço insinuações,
sou só eu,
tudo o resto?
não!
eu é que invento,
eu é que dou mais lados aos lados que os dados têm...
vou morrer só,
não mais só que qualquer outra ilha,
apenas um pouco mais sozinho,
menos numeroso,
mas até lá,
hei de ver se tens para mostrar!

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